sábado, 14 de julho de 2007

Preguiça

A D.Ermelinda é tão preguiçosa. Passa a esfregona, come um croissant, espirra, come um pão, tira um lençol, come um iogurte, pega no balde, vai tirar a meia-de-leite. Haja paciência. E ainda mete conversa, muita conversa.
- D.Clotilde, aaah, tou tão cansada. Aaaah. Não me aguento das pernas.
- Já preparou os quartos para as entradas?
- Ainda não. Então eu ainda tenho lençóis por passar a ferro, estive a mudar lençóis. Mas eu já lá vou. Eu já lá vou.
O Samuel tem os seus defeitos, mas dizer que a D.Ermelinda tinha nascido cansada sempre era pedra acertada.
A D.Ermelinda também prima pela linguagem. Hoje de manhã, ouvi-a para um dos artistas encarregue da pintura da fachada da residencial
- Vocês vão continuar com o caganço?
O pintor, envergonhado, cabisbaixo, foi buscar água à lavandaria, mas antes, numa explicação balbuciada a medo, defendera tímido que o caganço era necessário.
Mas o que mais aprecio nela é vê-la a enfiar croissants e pães em sacos à socapa para os filhos. Decorridos uns minutos, vem o obeso do filho buscá-los. Não os come à minha frente, mas os deslizes da juventude são alegremente cantantes
- Ô mãi, já comi três croissants!

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